sábado, 12 de julho de 2008
Tempo para Tudo
Eclesiastes 3:1-7
Há tempo para tudo.
O Cristão é bastante ansioso. Quer tudo a tempo e a hora. Tudo a seu bel prazer.
O empresário, sobretudo o brasileiro que emprega um capital, quer ter retorno no ano seguinte, quando a legislação prevê entre 3 a 5 anos.
Nós podemos ao nascer, seguir os preceitos cristãos, isto sendo filhos de pais cristãos, e sendo criados na igreja.
Após chorar e ultrapassar as dificuldades.
O tempo mesmo é para plantar, curar, edificar, tempo de rir, tempo de juntar; abraçar, tempo de guardar; tempo de agir.
Esta Paróquia lá traz plantou, com os irmãos que por aqui passaram e deixando sua participação, sua cota.
Uns se converteram nessa comunidade e hoje estão pregando o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo em outras igrejas, outros locais.
Os que nos antecederam nesta localidade, sentiram-se em dado momento esperançosos por dias melhores. Outros desistiram, mas em nenhum momento o Pai desistiu deles, renovou a sua fé, deu-lhe mais confiança, e deu-lhe a oportunidade de criar suas famílias. Em todos os momentos o Pai ao seu lado no controle da vida de cada um.
- Deixemos o Espírito fluir em nós.
Passando algum tempo o Pai foi revelando a cada momento na comunidade cristã local os talentos. Anos plantando e agora só colhendo os frutos deste anos de árduo trabalho, ou seja a colheita em pleno andamento.
Homens e mulheres orando por seus filhos, jovens engajados na igreja.
Percebe a olho nu a comunidade fluir.
Isto se chama Deus presente.
Não nos perturbemos, para tudo há o seu tempo.
O Pai escreve reto por linhas tortas, enquanto nós nem com as retas linhas, ainda escrevemos torto.
O mundo foi criado em seis dias e no sétimo o Deus Criador descansou.
Devemos ser humildes, mantermos o temor ao Pai, e fazer a vontade de Deus.
Rev. Tibério Marques, ose.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Le Monde - Anglicanismo: Ameaça de Cisma Confirmada
02/07/2008
Anglicanismo: ameaça de cisma confirmada
Liberais e conservadores disputam entre si a Igreja anglicana
Henri Tincq
Temida por muito tempo, a concretização de uma dissidência no interior da Igreja anglicana tornou-se uma realidade. Um cisma que opõe os tradicionalistas aos liberais foi confirmado no domingo (29) no final de uma semana de discussões organizada por uma vertente dissidente que leva o nome de Gafcon (Global Anglican Future Conference - Conferência sobre perspectivas Anglicanas Globais). Este evento reuniu em Amã (Jordânia) e em Jerusalém cerce de mil bispos, padres e laicos anglicanos de orientação tradicionalista.
Uma cisão de fato no âmbito do anglicanismo
Os seus promotores se recusam a falar de cisma e preferem empregar a expressão de "Igreja dentro da Igreja". Contudo, a FOCA (Fellowship of Confessing Anglicans - Fraternidade dos Fiéis Anglicanos), a entidade que eles fundaram em Jerusalém, desponta como uma cisão de fato no âmbito do anglicanismo, o qual, por sua vez é também oriundo de uma ruptura ocorrida há quatro séculos entre a Roma dos papas e a Coroa da Inglaterra.
O número de seguidores que esta ala conservadora representa (35 milhões, ou seja, um pouco menos da metade dos 77 milhões de fiéis anglicanos), o questionamento da primazia do arcebispo de Canterbury, além da alternativa que ela pretende representar contra "o secularismo militante" e o "declínio espiritual" constituem um desafio sem precedente.
Por enquanto, a hierarquia oficial permanece em silêncio e aguarda a conferência de Lambeth (residência histórica em Londres dos arcebispos de Canterbury) que reunirá, de 20 de julho a 3 de agosto, os bispos do mundo inteiro - com a exceção da maior parte dos 300 dissidentes que já anunciaram que iriam boicotar este compromisso.
A declaração final da conferência rebelde que acaba de se encerrar em Jerusalém rejeita "a autoridade das Igrejas e dos dirigentes que renegaram a fé ortodoxa por meio de palavras ou de atos". Ela reconhece a sede histórica da catedral de Canterbury, mas não aceita que "a identidade anglicana seja obrigatoriamente determinada pelo reconhecimento do arcebispo de Canterbury". No plano doutrinário, ela está decidida a descartar os acréscimos recentes, de inspiração liberal, que foram promovidos no "Book of Common Prayer" (Livro de Oração Comum), o manual de base (elaborado em 1662) de todos os anglicanos. Por fim, ela pretende implantar a formação dos seus próprios padres em faculdades de teologia separadas, em Londres (Oak Hill) ou em Oxford (Wycliffe Hall).
A crise vinha ameaçando desde 2 de novembro de 2003, quando a Igreja Episcopal (anglicana) dos Estados Unidos ordenou Gene Robinson, um pai de família divorciado e abertamente homossexual, bispo do Estado do New Hampshire. Na ocasião, para preservar a unidade da sua Igreja, dom Rowan Williams, o arcebispo de Canterbury, havia evitado contestar esta decisão. Contudo, a sua hesitação acabou provocando a rebelião de comunidades inteiras nas "províncias" da África, da Austrália, da Ásia e da América Latina.
Estas romperam todos os vínculos existentes com a Igreja americana, enquanto os seus líderes se mobilizaram para tomar a frente da dissidência. Entre eles se destacam Peter Jensen, o arcebispo de Sidney (Austrália), Peter Akinola, o arcebispo da Nigéria, que andou se mostrando o mais violento nas suas diatribes anti-americanas, e Michael Nazir-Ali, o bispo de Rochester, de origem paquistanesa, que pertence à vertente "evangélica" da Igreja da Inglaterra, a qual se tornou majoritária em detrimento da vertente "anglo-católica".
Uma redistribuição do poder
As declarações que foram ouvidas em Jerusalém refletem a separação que foi consumada em função da decisão que conduziu os anglicanos americanos a ordenarem um bispo homossexual: "Aquilo foi um surto de loucura", comenta Peter Jensens, "que estremeceu o gigante adormecido do anglicanismo ortodoxo e evangélico". "Ficou difícil", acrescenta Michael Nazir-Ali, "ensinar a fé comum ao lado de clérigos que ordenaram uma pessoa cujo estilo de vida é contrário ao ensinamento unânime da Bíblia e da Igreja".
Denunciando a "apostasia" (renegação de uma fé, uma palavra que ele pediu para retirar posteriormente) e o "revisionismo" da hierarquia atual, o nigeriano Peter Akinola tomou a palavra para denunciar "as manipulações daqueles que renegam o Evangelho". Foi nas "províncias" da África que a reação mostrou-se mais violenta, contra o clérigo e os casais homossexuais (que foram abençoados por padres nos Estados Unidos e no Canadá), contra a secularização de tipo ocidental e em favor da defesa da família tradicional.
Esta tempestade anuncia uma redistribuição do poder no quadro da confissão anglicana, que desde o começo sempre foi dirigida pela Igreja mãe da Inglaterra. Atualmente, esta última vem sendo abandonada pelos seus fiéis. As suas finanças estão praticamente exauridas. Ela também enfrenta dificuldades para lidar com a secularização e o pluralismo religioso: no início de 2008, uma declaração do arcebispo Rowan Williams a favor da introdução da Charia (a lei islâmica) no quadro da lei britânica havia causado um escândalo.
O declínio da Igreja "estabelecida" da Inglaterra vem acrescentar-se aos avanços da vertente evangélica que tomam conta dos continentes do Sul e andou dividindo até mesmo as "províncias" anglicanas da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos e do Canadá. Conforme apontou um editorial do jornal "The Guardian" em 30 de junho, "a desaprovação de Rowan Williams marca o fim da dominação colonial sobre a Igreja anglicana".
Tradução: Jean-Yves de Neufville
Anglicanismo: ameaça de cisma confirmada
Liberais e conservadores disputam entre si a Igreja anglicana
Henri Tincq
Temida por muito tempo, a concretização de uma dissidência no interior da Igreja anglicana tornou-se uma realidade. Um cisma que opõe os tradicionalistas aos liberais foi confirmado no domingo (29) no final de uma semana de discussões organizada por uma vertente dissidente que leva o nome de Gafcon (Global Anglican Future Conference - Conferência sobre perspectivas Anglicanas Globais). Este evento reuniu em Amã (Jordânia) e em Jerusalém cerce de mil bispos, padres e laicos anglicanos de orientação tradicionalista.
Uma cisão de fato no âmbito do anglicanismo
Os seus promotores se recusam a falar de cisma e preferem empregar a expressão de "Igreja dentro da Igreja". Contudo, a FOCA (Fellowship of Confessing Anglicans - Fraternidade dos Fiéis Anglicanos), a entidade que eles fundaram em Jerusalém, desponta como uma cisão de fato no âmbito do anglicanismo, o qual, por sua vez é também oriundo de uma ruptura ocorrida há quatro séculos entre a Roma dos papas e a Coroa da Inglaterra.
O número de seguidores que esta ala conservadora representa (35 milhões, ou seja, um pouco menos da metade dos 77 milhões de fiéis anglicanos), o questionamento da primazia do arcebispo de Canterbury, além da alternativa que ela pretende representar contra "o secularismo militante" e o "declínio espiritual" constituem um desafio sem precedente.
Por enquanto, a hierarquia oficial permanece em silêncio e aguarda a conferência de Lambeth (residência histórica em Londres dos arcebispos de Canterbury) que reunirá, de 20 de julho a 3 de agosto, os bispos do mundo inteiro - com a exceção da maior parte dos 300 dissidentes que já anunciaram que iriam boicotar este compromisso.
A declaração final da conferência rebelde que acaba de se encerrar em Jerusalém rejeita "a autoridade das Igrejas e dos dirigentes que renegaram a fé ortodoxa por meio de palavras ou de atos". Ela reconhece a sede histórica da catedral de Canterbury, mas não aceita que "a identidade anglicana seja obrigatoriamente determinada pelo reconhecimento do arcebispo de Canterbury". No plano doutrinário, ela está decidida a descartar os acréscimos recentes, de inspiração liberal, que foram promovidos no "Book of Common Prayer" (Livro de Oração Comum), o manual de base (elaborado em 1662) de todos os anglicanos. Por fim, ela pretende implantar a formação dos seus próprios padres em faculdades de teologia separadas, em Londres (Oak Hill) ou em Oxford (Wycliffe Hall).
A crise vinha ameaçando desde 2 de novembro de 2003, quando a Igreja Episcopal (anglicana) dos Estados Unidos ordenou Gene Robinson, um pai de família divorciado e abertamente homossexual, bispo do Estado do New Hampshire. Na ocasião, para preservar a unidade da sua Igreja, dom Rowan Williams, o arcebispo de Canterbury, havia evitado contestar esta decisão. Contudo, a sua hesitação acabou provocando a rebelião de comunidades inteiras nas "províncias" da África, da Austrália, da Ásia e da América Latina.
Estas romperam todos os vínculos existentes com a Igreja americana, enquanto os seus líderes se mobilizaram para tomar a frente da dissidência. Entre eles se destacam Peter Jensen, o arcebispo de Sidney (Austrália), Peter Akinola, o arcebispo da Nigéria, que andou se mostrando o mais violento nas suas diatribes anti-americanas, e Michael Nazir-Ali, o bispo de Rochester, de origem paquistanesa, que pertence à vertente "evangélica" da Igreja da Inglaterra, a qual se tornou majoritária em detrimento da vertente "anglo-católica".
Uma redistribuição do poder
As declarações que foram ouvidas em Jerusalém refletem a separação que foi consumada em função da decisão que conduziu os anglicanos americanos a ordenarem um bispo homossexual: "Aquilo foi um surto de loucura", comenta Peter Jensens, "que estremeceu o gigante adormecido do anglicanismo ortodoxo e evangélico". "Ficou difícil", acrescenta Michael Nazir-Ali, "ensinar a fé comum ao lado de clérigos que ordenaram uma pessoa cujo estilo de vida é contrário ao ensinamento unânime da Bíblia e da Igreja".
Denunciando a "apostasia" (renegação de uma fé, uma palavra que ele pediu para retirar posteriormente) e o "revisionismo" da hierarquia atual, o nigeriano Peter Akinola tomou a palavra para denunciar "as manipulações daqueles que renegam o Evangelho". Foi nas "províncias" da África que a reação mostrou-se mais violenta, contra o clérigo e os casais homossexuais (que foram abençoados por padres nos Estados Unidos e no Canadá), contra a secularização de tipo ocidental e em favor da defesa da família tradicional.
Esta tempestade anuncia uma redistribuição do poder no quadro da confissão anglicana, que desde o começo sempre foi dirigida pela Igreja mãe da Inglaterra. Atualmente, esta última vem sendo abandonada pelos seus fiéis. As suas finanças estão praticamente exauridas. Ela também enfrenta dificuldades para lidar com a secularização e o pluralismo religioso: no início de 2008, uma declaração do arcebispo Rowan Williams a favor da introdução da Charia (a lei islâmica) no quadro da lei britânica havia causado um escândalo.
O declínio da Igreja "estabelecida" da Inglaterra vem acrescentar-se aos avanços da vertente evangélica que tomam conta dos continentes do Sul e andou dividindo até mesmo as "províncias" anglicanas da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos e do Canadá. Conforme apontou um editorial do jornal "The Guardian" em 30 de junho, "a desaprovação de Rowan Williams marca o fim da dominação colonial sobre a Igreja anglicana".
Tradução: Jean-Yves de Neufville
sexta-feira, 4 de julho de 2008
O Salário do Servo
Passo hoje à análise do termo Beruf de Max Weber e ainda pela evolução historica do termo, até o inglês calling , e volto ao entendimeto da vocação como o chamado à qualificação moral na vida profissional e mundana, que é a plenitude da ascese intramundana, no chamado à vinculaçao do trabalho e aos princípios religiosos.
O Ponto principal do Cristianismo, como o conhecemos, é, e sempre será a Figura do Cristo, Jesus, Resurreto e Príncipe da Paz. E quando curiosamente o Próprio Jesus nos afirma que não veio a trazer paz, muitas vezes nos chocamos e tendemos a imaginar que a espada (Mt. 10:34) a que Ele se refere são lutas ou disputas de pessoas por causa de seu nome; quando na verdade o que Ele nos propõe é a saída da condição de ociosos da Palavra e nos chama a belíssima condição de Servos do seu Reino.
Quando a vida de um crente se torna verdadeiramente voltada para o Pai, quando este passa a dedicar a sua casa, o seu trabalho, seus estudos, sua convivência para a edificação de Seu Reino, é fato certo que as discórdias virão e serão visíveis principalmente nos nossos próprios lares (também nos grupos de relacionamento e Igrejas); muitas vezes veladas por obras do inimigo e em conseqüência da vida que o Cristão é chamado a viver. Ele passará a ter que escolher entre “os seus” e o que foi anunciado nos Evangelhos, e só assim poderá testificar em sua vida o amor imenso de Deus. Pois as bênçãos do Pai recaem para todos aqueles que observam rigorosamente os seus mandamentos.
Ao contrário dos que muitos pensam, nós não somos chamados a ser trabalhadores assalariados do Pai, todavia, somos resgatados do mal, para servir a Cristo. Somos servos e, por conseguinte não seremos remunerados ou recompensados por isso, seremos sim herdeiros dos galardões de Suas promessas, como fiéis observadores de Sua Palavra.
Em essência tudo o que vemos nos dias atuais e falo atual em termos contemporâneos mesmo, (não quero fazer anacronismos intencionados para tentar qualificar o que são costumes e culturas dos nossos tempos, dos tempos em que chamavam crentes de bodes ou dos tempos dos relatos bíblicos); são incursões mercadológicas de um tipo de igreja que abjura da fé em troca de membros e em função disso apreende tudo o que não é doutrinário e apostólico e introduz na igreja sob a égide de que “até pecar vale” se isso for dentro da igreja, já que é lugar terapêutico, isso pelo que chamam Deus de amor; e por isso, tudo vale. Isso é “picaretice e eixejegue na hermenêutica bíblica” sem falar do pecado que os que o executam serão chamados à responsabilidade.
É lamentável que tudo isso aconteça num tempo de tão grandes e profundas modificações geo-político-econonômicas no mundo, mas acredito que a fé Cristã restaura os que atendem o Beruf da qualificaçao moral na vida, a verdadeira e respeitosa fé no Cristo que nos diz em Mateus 10:32-33 “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus.” Essa fé nos trará a lucidez para os tempos vindouros, e demarcará em seus lugares aqueles que crêem e aqueles que adaptam a palavra às suas vidas e não o oposto. Porque sempre que começamos a barganhar com Deus a nossa condição de vida, trocamos os papéis e passamos a nos colocar como deuses, que acreditam possuir algum poder sobre o Senhor.
Na verdade as recompensas do crente perpassam pela sua própria negação. É justamente quando o crente não espera ansioso algo em troca que estas vêm, quando perdemos a vida é que a ganhamos; e é justamente servindo abnegadamente ao nosso Deus que isso é percebido e recebido por Ele e todas as suas promessas são cumpridas em nossas vidas, pois a Aliança é Dele para conosco e não o inverso. Vamos dar a um desses pequeninos a água fria de beber, de nosso tempo, de nossa amizade e de nossa verdadeira vontade de ajudar sem a hipocrisia de que a sede deles é o auto-entendimento de seus pecados e de que suas feridas são normais e não precisam ser saradas. Sejamos corajosamente fiéis a este Deus que nos colocou Sua vida para nossa vida, e passemos a entender que não podemos rejeitá-lo em detrimento do que muitas vezes nos parece tão valioso, pois o Valioso é o Bem que vem do Pai.
Sem Frei Carlos Evangelista, ose.
Dom Robinson fala na Conferência preparatório do GAFCON em Jerusalém
O Bispo do Recife apresentou a seguinte reflexão na Conferência preparatória para o GAFCON, em Jerusalém, em 21.06.2008 (In English see: www.virtuonline.org)
UMA COMUNIDADE DA PALAVRA,
DA ADORAÇÃO E DO TESTEMUNHO
Revmo.Robinson Cavalcanti ()
A Graça e a Paz sejam com todos!
Gostaria de saudar a todos os presentes a esse histórico evento, em nome do clero e do povo da Diocese do Recife. E que Deus nos abençoe esta manhã!
Gostaria de iniciar minhas palavras lembrando que hoje temos Paróquias e Dioceses Anglicanas em todos os países da América Latina: um continente marcado por um cristianismo nominal e sincrético, e, na realidade um imenso campo missionário, onde a fé reformada, evangélica e ortodoxa vem crescendo em números impressionantes. Por outro lado, não podemos nos esquecer daqueles muitos anglicanos ortodoxos nas Províncias do México e da América Central, bem como da nona Província interna da Igreja Episcopal, dos Estados Unidos, que estão isolados, sem pontes conosco e com o que estamos fazendo aqui. Cremos que a Comunhão Anglicana é mais do que uma expressão religiosa da Comunidade Britânica de Nações, pois milhões dos seus membros falam espanhol, francês ou português, o que significa mais do que línguas, porém diferentes culturas e perspectivas. Sinto-me honrado por encarnar esta manhã algo um tanto raro: uma face, uma voz e um sotaque latino em um fórum anglicano de alcance mundial.
Introdução
O nosso tema é a Igreja, e Igreja como “Uma Comunidade da Palavra, da Adoração e do Testemunho”. Estou seguro de que a maior debilidade da Igreja em nossos tempos reside na sua própria auto-compreensão, ou seja, a nossa maior debilidade está em uma desvalorização ou em uma distorção da Eclesiologia. Deve ser a nossa prioridade recuperar a compreensão da Igreja como algo singular, nascido do coração de Deus, central no processo da Revelação e na Economia da Salvação, agência singular do Reino de Deus, e Segunda, e última Aliança. Todas as revelações e alianças do passado cessaram, quando, na plenitude dos tempos, veio Jesus, que nos legou a Igreja. E o reformador Martinho Lutero não se cansava de enfatizar que a Igreja é o Novo Israel, herdeira única das promessas e dos títulos do Primeiro, como bem nos ensina o apóstolo Pedro em sua primeira Carta, 2:9: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
Não há mais entre nós nenhum outro povo escolhido do passado, nem nenhuma nação escolhida do presente, senão a Igreja, nação universal de todas as nações sob a Cruz, no seio da qual todas as distinções outras cessam, pois, como afirma o apóstolo Paulo, em sua Carta aos Gálatas 3:28-29: “Destarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa”. Essa Igreja foi estabelecida por Jesus Cristo como sua, a partir de uma correta confissão de fé, feita por Pedro, como porta-voz do Colégio Apostólico: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mateus 16:16b). Sobre ela Ele soprou o Espírito Santo, outorgando-lhe autoridade (João 20:22). Espírito derramado no Pentecostes (Atos 2), que é Espírito de Poder e Espírito de Verdade, e que tem assistido a Igreja por dois mil anos, em seus pecados, fraquezas e desvios, reformando-a, reavivando-a, restaurando-a, até o Grande Dia.
A tragédia da Idade Contemporânea é que o Corpo de Cristo tem sido dilacerado pelo fenômeno pecaminoso e carnal do denominacionalismo. O denominacionalismo, como fenômeno histórico e sociológico do individualismo ocidental é estranho aos ensinos das Sagradas Escrituras, e atenta contra a Unidade desejada pelo Senhor em sua Oração Sacerdotal. A Igreja foi constituída para a Unidade, a Catolicidade, a Santidade e a Apostolicidade. Em sua fragmentação, a Igreja vive em pecado. Como vive em pecado quando se atenta contra a catolicidade, e se fecha como uma seita; se atenta contra a santidade, quando conivente com o erro, e se atenta contra a apostolicidade, quando abandona a sagrada herança histórica do conteúdo da fé.
A Igreja Como Comunidade
Como um ente social, que vive na História – tempo, espaço e conjuntura – que vive sob as leis do Estado, que precisa desenvolver uma Ordem interna, com normas, princípios, procedimentos, ensino, disciplina e autoridades constituídas, a Igreja não pode deixar de ser, também, uma Instituição. O processo de institucionalização não somente é necessário e inevitável, parte do nosso Mandado Cultural, mas toda sua negação radical termina por gerar nova institucionalização mais pobre, e, no caso contemporâneo, na promoção de personalidades fortes e centralizadoras, das mega-estrelas religiosas, totalmente distantes do modelo que encontramos nos Atos dos Apóstolos.
Como uma Instituição, a Igreja é também uma Sociedade, tantas vezes com relacionamentos formais, superficiais e efêmeros. Sendo uma Instituição e uma Sociedade, a Igreja apenas é fiel à sua vocação se vive como uma Comunidade, marcada por relacionamentos profundos, estáveis, duradouros, não resultantes de laços de afeição meramente humanos, mas do amor como fruto do Espírito Santo. Em Atos 2:42, vemos que a Igreja Primitiva perseverava “na comunhão”, e, no versículo 44, que “Todos os que criam estavam juntos...”. E, em 4:32, lemos que: “Da multidão dos que creram era um o coração e a alma”.
Esse vínculo não era de um sentimentalismo sem conseqüências práticas, mas corações transformados resultavam em uma mordomia dos bens para a Obra, com a sua venda depositada “aos pés dos apóstolos”, e, vencendo o pecado do individualismo egocêntrico, marca da natureza caída, não consideravam nada seu como se seu fosse, mas partilhavam comunitariamente, para que não houvesse necessitados entre eles, pois passavam pela metanóia da alteridade, o ser não para si, mas para Deus e para o outro.
Uma Comunidade é algo mais profundo do que uma Instituição e uma Sociedade, e vai muito além das exterioridades e da forma, e sim para a profundidade do conteúdo, para a organicidade do Corpo e da Família.
1. Comunidade da Palavra
A comunidade eclesial é um fenômeno de criação divina, na terra, porém vinculada ao céu, se movendo como um milagre, um mistério, um sacramento de Deus na História, pois, nos diz o texto sagrado que “...e em todos eles havia abundante graça” (At 4:35c).
A sua mensagem não era elaborada a partir dos filósofos gregos ou da tradição rabínica judaica, não era um sistema, mas o próprio Evangelho. No mesmo versículo lemos que: “Com grande poder os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do Senhor”. A mensagem era do Cristo crucificado que ressuscitara. E essa era uma mensagem de poder. Não há outra mensagem central para a Igreja em todas as épocas e lugares. Não há mensagem sem a proclamação da ressurreição. E outra que seja a mensagem é desprovida desse poder.
Parte do conteúdo do fruto do Espírito Santo é a perseverança, é permanecer firme, continuamente, a despeito das circunstâncias, dos obstáculos, dos riscos de martírio.
Em que a Igreja perseverava? “E perseveravam na doutrina dos apóstolos...” (At 2:42a).
Perseveravam não só na camaradagem de um gostoso clube religioso ou na teatralidade dos ritos, mas em um conteúdo docente, em um ensino autoritativo, pois esse ensino tinha sido ministrado pelos apóstolos, que haviam recebido do Senhor, e que caberia a cada geração receber e transmitir intacto. O apóstolo Paulo, ao descrever a Ceia, começa com esse preâmbulo: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei...” (I Co 11:23a).
O próprio Senhor Jesus, e os apóstolos, referendaram o conteúdo do Antigo Testamento. E as palavras do Novo Testamento foram inspiradas pelo Espírito Santo, que é um espírito de verdade, e que conduz a Igreja “a toda a verdade”. A ênfase na verdade é sempre uma necessidade, diante do ministério de satanás, que é de engano e de mentira. Ele é “o pai da mentira” (Jo 8:44). Ele é o pai dos falsos ensinos, das heresias, que surgiram no passado, e que ressurgem no presente sob nova roupagem, fazendo que a nossa tarefa seja não apenas apologética, mas, também, de luta espiritual, contra o mundo tenebroso das hostes espirituais da maldade nas regiões celestes (Ef 6:12).
Esse compromisso com a Verdade da pessoa e obra de Cristo, e com o conteúdo da revelação escrita, levou a geração pós-apostólica a nos legar quatro colunas para a continuidade da Igreja: a) a definição do Cânon do Novo Testamento; b) a explicitação das doutrinas centrais nos Credos; c) a definição dos Sacramentos; d) o sistema de governo episcopal, como o mais adequado para a Ordem na Igreja.
A Igreja sempre se debilitou quando deixou de ser uma Comunidade da Palavra. A autoridade da Palavra foi central na Reforma e nos Avivamentos. A nós, Anglicanos, esse é um ensino central dos Artigos de Religião. E é em torno da Palavra e da Verdade que travamos as batalhas decisivas com as forças da mentira fora e dentro da Igreja. Jesus Cristo é a Verdade, e a sua Palavra é a Verdade.
2. A Comunidade da Adoração
O texto do livro dos Atos dos Apóstolos nos dá conta de que os novos convertidos continuavam a se reunir “todos os dias” (At 2:46a) no pátio do Templo, e não o faziam por mera rotina ou senso de dever, mas naquela espontânea vontade de buscar a presença de Deus no lugar determinado para o culto. Sentimento que levou o salmista a exclamar: “Alegrei-me quanto me disseram; vamos à casa do Senhor” (Sl 122:1). E o próprio Senhor Jesus nos dá o exemplo, pois a freqüência semanal da sinagoga era “seu costume” (Lc 4:16a).
Na transição entre a Antiga e a Nova Aliança, e com a destruição do Templo de Jerusalém, os discípulos cultuam nos lares, em espaços abertos, nas catacumbas, e nos novos templos. O texto do Livro de Atos nos fala que eles estavam sempre “louvando a Deus”, e que se dedicavam “ao partir do pão e às orações” (At 2:42 e 47a).
Em cada cristão há uma consciência da criatura que se prostra diante do seu Criador, em atitude de adoração. O finito diante do infinito. O transitório diante do Eterno. A terra diante do Céu. O eu diante do Grande Outro: Pai, Filho e Espírito Santo, pois toda adoração cristã é trinitária. No silêncio de nossas meditações e contemplações, procedemos à adoração individual, que é necessária e importante, mas que não nos basta.
Adoração é, também e sempre, comunitária. Um povo que se ajunta, consciente dos seus pecados, exercitando a diversidade dos seus dons para a edificação conjunta do Corpo, em adoração comunitária, que é alimento para a alma de todos, e de cada um.
Nossas ações resultariam na aridez do mero ativismo; nossas reflexões resultariam na aridez do mero academicismo, se não fossem iluminadas e aquecidas pela adoração, pela transcendência, pelos momentos místicos do Corpo Místico.
E aqui entra a importância da Liturgia, como acúmulo da adoração através dos séculos e lugares, e, ainda, renovada sempre e atualizada sempre, na harmonia entre o solene e o espontâneo, onde a Comunidade da Adoração é sempre Comunidade da Palavra; onde a Comunidade da Adoração é sempre Comunidade Terapêutica, pois a adoração cura os males do corpo, da mente e da alma, e prefigura o dia em que as multidões de todas as raças e línguas se prostrarão diante do Cordeiro, no centro do trono, quando toda criatura dirá: “Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro, sejam o louvor, a glória e o poder, para todo o sempre” (Ap 5:13b).
3. A Comunidade do Testemunho
O que marcava a vida da Igreja Primitiva? Se todos “estavam cheios de temor” diante de Deus, se eles “se mantinham unidos”, se eles “tinham tudo em comum”, se eles se reuniam “com alegria” e com “sinceridade de coração”, se por meio deles “muitas maravilhas e sinais” (At 2:43,46) eram feitos, não havia dúvida da presença e da ação poderosa do Espírito Santo no seu meio, e o impacto sobre o ambiente que os cercava seria inevitável. Por um lado o testemunho de temperamentos e caracteres mudados do alto, e por dentro, resultava “na simpatia de todo o povo”. Não em indiferença, rejeição ou antipatia, mas em simpatia.
Por outro lado, essas marcas tinham um desdobramento missionário, evangelístico, pois “...o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos” (At 4:47b). A multidão dos três mil não se fechara; não se bastara; não estava contente em pertencer ao novo clube santo, mas ela se projetava portadora da mensagem das Boas Novas. Ela crescia, e continuava crescendo. O testemunho era central, porque não era um discurso vazio, mas uma mensagem respaldada por vidas transformadas, que evidenciavam a presença de Deus. Presença transformadora de Deus na afetividade e nos valores, e na parte mais difícil de se converter: os bolsos.
O testemunho era, pois, central, mas não era pelo esforço humano, pela organização, pelos recursos, que os novos salvos iam sendo acrescentados. Era o Senhor quem acrescentava, porque somente o Senhor pode acrescentar. E isso não era feito de vez em quando, em dias especiais, com programas especiais, em dias de cruzadas ou conferência evangelísticas, mas diariamente, todos os dias, sempre, continuamente.
As narrativas de Atos 2 e Atos 4 nos mostram os aspectos simultâneos e complementares entre qualidade e quantidade. E essa é sempre uma dicotomia falsa: a do valor da qualidade que prescinde da quantidade, ou o valor da quantidade que prescinde da qualidade. A Comunidade do Testemunho é uma comunidade de qualidade que se amplia sempre em uma comunidade de quantidade, na harmonia do Grande Mandamento e da Grande Comissão. Qualidade marcada pelo amor, pela unidade, pela verdade; quantidade marcada pela paixão pelas almas perdidas, e pela salvação dessas almas perdidas. Outra dicotomia falsa é entre a prática do amor à custa da sã doutrina e a defesa da sã doutrina à custa da não-prática do amor. Ortodoxia e Ortopraxia são inseparáveis.
A Comunidade do Testemunho se evidencia como uma alternativa e uma contracultura em relação ao mundo que jaz no maligno, onde a obra da carne dá lugar ao fruto do Espírito, de justiça e de paz. Mas ela não pode viver voltada para dentro, mas deve projetar, como “sal” e “luz”, no meio do drama da História, afirmando os valores do Reino de Deus contra os anti-valores do principado das trevas, afirmativa, proclamativa, profética. É parte da sua missão, questionar os pecados dos indivíduos, grupos, instituições, nações e Estados, denunciar a idolatria, chamar ao arrependimento.
Somos, também, desafiados hoje à reevangelização da antiga Cristandade. Em 2010 estaremos comemorando o centenário de um grande equívoco: a decisão da Conferência Ecumênica de Edimburgo, na Escócia, de excluir a América Latina como campo missionário. Nós, os 25 milhões de protestantes brasileiros – juntamente com outros milhões em todo o continente – somos herdeiros dos que desobedeceram àquela decisão. Quando 600 mil pessoas têm deixado a Igreja de Roma no Brasil cada ano nas últimas três décadas; quando apenas 11% dos seus membros freqüentam a Igreja; quando 50% dos seus membros ativos freqüentam também o ocultismo; quando 70% deles acreditam na reencarnação e não na ressurreição; quando a única presença liberal expressiva se deu com sua Teologia da Libertação, a ortodoxa e pujante comunidade protestante do Brasil mantêm hoje missionários em mais de 100 países.
A Igreja foi, em seu início, uma Comunidade da Palavra, da Adoração e do Testemunho. Ela é chamada a ser sempre assim em todas as épocas. Esse é o desafio atual da Comunhão Anglicana, como ramo dessa Igreja. Que tenhamos coragem para ser. E que O Senhor nos assista com o seu Poder. Amém!
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Revmo. Robinson Cavalcanti é Bispo Anglicano da Diocese do Recife.
UMA COMUNIDADE DA PALAVRA,
DA ADORAÇÃO E DO TESTEMUNHO
Revmo.Robinson Cavalcanti ()
A Graça e a Paz sejam com todos!
Gostaria de saudar a todos os presentes a esse histórico evento, em nome do clero e do povo da Diocese do Recife. E que Deus nos abençoe esta manhã!
Gostaria de iniciar minhas palavras lembrando que hoje temos Paróquias e Dioceses Anglicanas em todos os países da América Latina: um continente marcado por um cristianismo nominal e sincrético, e, na realidade um imenso campo missionário, onde a fé reformada, evangélica e ortodoxa vem crescendo em números impressionantes. Por outro lado, não podemos nos esquecer daqueles muitos anglicanos ortodoxos nas Províncias do México e da América Central, bem como da nona Província interna da Igreja Episcopal, dos Estados Unidos, que estão isolados, sem pontes conosco e com o que estamos fazendo aqui. Cremos que a Comunhão Anglicana é mais do que uma expressão religiosa da Comunidade Britânica de Nações, pois milhões dos seus membros falam espanhol, francês ou português, o que significa mais do que línguas, porém diferentes culturas e perspectivas. Sinto-me honrado por encarnar esta manhã algo um tanto raro: uma face, uma voz e um sotaque latino em um fórum anglicano de alcance mundial.
Introdução
O nosso tema é a Igreja, e Igreja como “Uma Comunidade da Palavra, da Adoração e do Testemunho”. Estou seguro de que a maior debilidade da Igreja em nossos tempos reside na sua própria auto-compreensão, ou seja, a nossa maior debilidade está em uma desvalorização ou em uma distorção da Eclesiologia. Deve ser a nossa prioridade recuperar a compreensão da Igreja como algo singular, nascido do coração de Deus, central no processo da Revelação e na Economia da Salvação, agência singular do Reino de Deus, e Segunda, e última Aliança. Todas as revelações e alianças do passado cessaram, quando, na plenitude dos tempos, veio Jesus, que nos legou a Igreja. E o reformador Martinho Lutero não se cansava de enfatizar que a Igreja é o Novo Israel, herdeira única das promessas e dos títulos do Primeiro, como bem nos ensina o apóstolo Pedro em sua primeira Carta, 2:9: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
Não há mais entre nós nenhum outro povo escolhido do passado, nem nenhuma nação escolhida do presente, senão a Igreja, nação universal de todas as nações sob a Cruz, no seio da qual todas as distinções outras cessam, pois, como afirma o apóstolo Paulo, em sua Carta aos Gálatas 3:28-29: “Destarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa”. Essa Igreja foi estabelecida por Jesus Cristo como sua, a partir de uma correta confissão de fé, feita por Pedro, como porta-voz do Colégio Apostólico: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo” (Mateus 16:16b). Sobre ela Ele soprou o Espírito Santo, outorgando-lhe autoridade (João 20:22). Espírito derramado no Pentecostes (Atos 2), que é Espírito de Poder e Espírito de Verdade, e que tem assistido a Igreja por dois mil anos, em seus pecados, fraquezas e desvios, reformando-a, reavivando-a, restaurando-a, até o Grande Dia.
A tragédia da Idade Contemporânea é que o Corpo de Cristo tem sido dilacerado pelo fenômeno pecaminoso e carnal do denominacionalismo. O denominacionalismo, como fenômeno histórico e sociológico do individualismo ocidental é estranho aos ensinos das Sagradas Escrituras, e atenta contra a Unidade desejada pelo Senhor em sua Oração Sacerdotal. A Igreja foi constituída para a Unidade, a Catolicidade, a Santidade e a Apostolicidade. Em sua fragmentação, a Igreja vive em pecado. Como vive em pecado quando se atenta contra a catolicidade, e se fecha como uma seita; se atenta contra a santidade, quando conivente com o erro, e se atenta contra a apostolicidade, quando abandona a sagrada herança histórica do conteúdo da fé.
A Igreja Como Comunidade
Como um ente social, que vive na História – tempo, espaço e conjuntura – que vive sob as leis do Estado, que precisa desenvolver uma Ordem interna, com normas, princípios, procedimentos, ensino, disciplina e autoridades constituídas, a Igreja não pode deixar de ser, também, uma Instituição. O processo de institucionalização não somente é necessário e inevitável, parte do nosso Mandado Cultural, mas toda sua negação radical termina por gerar nova institucionalização mais pobre, e, no caso contemporâneo, na promoção de personalidades fortes e centralizadoras, das mega-estrelas religiosas, totalmente distantes do modelo que encontramos nos Atos dos Apóstolos.
Como uma Instituição, a Igreja é também uma Sociedade, tantas vezes com relacionamentos formais, superficiais e efêmeros. Sendo uma Instituição e uma Sociedade, a Igreja apenas é fiel à sua vocação se vive como uma Comunidade, marcada por relacionamentos profundos, estáveis, duradouros, não resultantes de laços de afeição meramente humanos, mas do amor como fruto do Espírito Santo. Em Atos 2:42, vemos que a Igreja Primitiva perseverava “na comunhão”, e, no versículo 44, que “Todos os que criam estavam juntos...”. E, em 4:32, lemos que: “Da multidão dos que creram era um o coração e a alma”.
Esse vínculo não era de um sentimentalismo sem conseqüências práticas, mas corações transformados resultavam em uma mordomia dos bens para a Obra, com a sua venda depositada “aos pés dos apóstolos”, e, vencendo o pecado do individualismo egocêntrico, marca da natureza caída, não consideravam nada seu como se seu fosse, mas partilhavam comunitariamente, para que não houvesse necessitados entre eles, pois passavam pela metanóia da alteridade, o ser não para si, mas para Deus e para o outro.
Uma Comunidade é algo mais profundo do que uma Instituição e uma Sociedade, e vai muito além das exterioridades e da forma, e sim para a profundidade do conteúdo, para a organicidade do Corpo e da Família.
1. Comunidade da Palavra
A comunidade eclesial é um fenômeno de criação divina, na terra, porém vinculada ao céu, se movendo como um milagre, um mistério, um sacramento de Deus na História, pois, nos diz o texto sagrado que “...e em todos eles havia abundante graça” (At 4:35c).
A sua mensagem não era elaborada a partir dos filósofos gregos ou da tradição rabínica judaica, não era um sistema, mas o próprio Evangelho. No mesmo versículo lemos que: “Com grande poder os apóstolos davam o testemunho da ressurreição do Senhor”. A mensagem era do Cristo crucificado que ressuscitara. E essa era uma mensagem de poder. Não há outra mensagem central para a Igreja em todas as épocas e lugares. Não há mensagem sem a proclamação da ressurreição. E outra que seja a mensagem é desprovida desse poder.
Parte do conteúdo do fruto do Espírito Santo é a perseverança, é permanecer firme, continuamente, a despeito das circunstâncias, dos obstáculos, dos riscos de martírio.
Em que a Igreja perseverava? “E perseveravam na doutrina dos apóstolos...” (At 2:42a).
Perseveravam não só na camaradagem de um gostoso clube religioso ou na teatralidade dos ritos, mas em um conteúdo docente, em um ensino autoritativo, pois esse ensino tinha sido ministrado pelos apóstolos, que haviam recebido do Senhor, e que caberia a cada geração receber e transmitir intacto. O apóstolo Paulo, ao descrever a Ceia, começa com esse preâmbulo: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei...” (I Co 11:23a).
O próprio Senhor Jesus, e os apóstolos, referendaram o conteúdo do Antigo Testamento. E as palavras do Novo Testamento foram inspiradas pelo Espírito Santo, que é um espírito de verdade, e que conduz a Igreja “a toda a verdade”. A ênfase na verdade é sempre uma necessidade, diante do ministério de satanás, que é de engano e de mentira. Ele é “o pai da mentira” (Jo 8:44). Ele é o pai dos falsos ensinos, das heresias, que surgiram no passado, e que ressurgem no presente sob nova roupagem, fazendo que a nossa tarefa seja não apenas apologética, mas, também, de luta espiritual, contra o mundo tenebroso das hostes espirituais da maldade nas regiões celestes (Ef 6:12).
Esse compromisso com a Verdade da pessoa e obra de Cristo, e com o conteúdo da revelação escrita, levou a geração pós-apostólica a nos legar quatro colunas para a continuidade da Igreja: a) a definição do Cânon do Novo Testamento; b) a explicitação das doutrinas centrais nos Credos; c) a definição dos Sacramentos; d) o sistema de governo episcopal, como o mais adequado para a Ordem na Igreja.
A Igreja sempre se debilitou quando deixou de ser uma Comunidade da Palavra. A autoridade da Palavra foi central na Reforma e nos Avivamentos. A nós, Anglicanos, esse é um ensino central dos Artigos de Religião. E é em torno da Palavra e da Verdade que travamos as batalhas decisivas com as forças da mentira fora e dentro da Igreja. Jesus Cristo é a Verdade, e a sua Palavra é a Verdade.
2. A Comunidade da Adoração
O texto do livro dos Atos dos Apóstolos nos dá conta de que os novos convertidos continuavam a se reunir “todos os dias” (At 2:46a) no pátio do Templo, e não o faziam por mera rotina ou senso de dever, mas naquela espontânea vontade de buscar a presença de Deus no lugar determinado para o culto. Sentimento que levou o salmista a exclamar: “Alegrei-me quanto me disseram; vamos à casa do Senhor” (Sl 122:1). E o próprio Senhor Jesus nos dá o exemplo, pois a freqüência semanal da sinagoga era “seu costume” (Lc 4:16a).
Na transição entre a Antiga e a Nova Aliança, e com a destruição do Templo de Jerusalém, os discípulos cultuam nos lares, em espaços abertos, nas catacumbas, e nos novos templos. O texto do Livro de Atos nos fala que eles estavam sempre “louvando a Deus”, e que se dedicavam “ao partir do pão e às orações” (At 2:42 e 47a).
Em cada cristão há uma consciência da criatura que se prostra diante do seu Criador, em atitude de adoração. O finito diante do infinito. O transitório diante do Eterno. A terra diante do Céu. O eu diante do Grande Outro: Pai, Filho e Espírito Santo, pois toda adoração cristã é trinitária. No silêncio de nossas meditações e contemplações, procedemos à adoração individual, que é necessária e importante, mas que não nos basta.
Adoração é, também e sempre, comunitária. Um povo que se ajunta, consciente dos seus pecados, exercitando a diversidade dos seus dons para a edificação conjunta do Corpo, em adoração comunitária, que é alimento para a alma de todos, e de cada um.
Nossas ações resultariam na aridez do mero ativismo; nossas reflexões resultariam na aridez do mero academicismo, se não fossem iluminadas e aquecidas pela adoração, pela transcendência, pelos momentos místicos do Corpo Místico.
E aqui entra a importância da Liturgia, como acúmulo da adoração através dos séculos e lugares, e, ainda, renovada sempre e atualizada sempre, na harmonia entre o solene e o espontâneo, onde a Comunidade da Adoração é sempre Comunidade da Palavra; onde a Comunidade da Adoração é sempre Comunidade Terapêutica, pois a adoração cura os males do corpo, da mente e da alma, e prefigura o dia em que as multidões de todas as raças e línguas se prostrarão diante do Cordeiro, no centro do trono, quando toda criatura dirá: “Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro, sejam o louvor, a glória e o poder, para todo o sempre” (Ap 5:13b).
3. A Comunidade do Testemunho
O que marcava a vida da Igreja Primitiva? Se todos “estavam cheios de temor” diante de Deus, se eles “se mantinham unidos”, se eles “tinham tudo em comum”, se eles se reuniam “com alegria” e com “sinceridade de coração”, se por meio deles “muitas maravilhas e sinais” (At 2:43,46) eram feitos, não havia dúvida da presença e da ação poderosa do Espírito Santo no seu meio, e o impacto sobre o ambiente que os cercava seria inevitável. Por um lado o testemunho de temperamentos e caracteres mudados do alto, e por dentro, resultava “na simpatia de todo o povo”. Não em indiferença, rejeição ou antipatia, mas em simpatia.
Por outro lado, essas marcas tinham um desdobramento missionário, evangelístico, pois “...o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos” (At 4:47b). A multidão dos três mil não se fechara; não se bastara; não estava contente em pertencer ao novo clube santo, mas ela se projetava portadora da mensagem das Boas Novas. Ela crescia, e continuava crescendo. O testemunho era central, porque não era um discurso vazio, mas uma mensagem respaldada por vidas transformadas, que evidenciavam a presença de Deus. Presença transformadora de Deus na afetividade e nos valores, e na parte mais difícil de se converter: os bolsos.
O testemunho era, pois, central, mas não era pelo esforço humano, pela organização, pelos recursos, que os novos salvos iam sendo acrescentados. Era o Senhor quem acrescentava, porque somente o Senhor pode acrescentar. E isso não era feito de vez em quando, em dias especiais, com programas especiais, em dias de cruzadas ou conferência evangelísticas, mas diariamente, todos os dias, sempre, continuamente.
As narrativas de Atos 2 e Atos 4 nos mostram os aspectos simultâneos e complementares entre qualidade e quantidade. E essa é sempre uma dicotomia falsa: a do valor da qualidade que prescinde da quantidade, ou o valor da quantidade que prescinde da qualidade. A Comunidade do Testemunho é uma comunidade de qualidade que se amplia sempre em uma comunidade de quantidade, na harmonia do Grande Mandamento e da Grande Comissão. Qualidade marcada pelo amor, pela unidade, pela verdade; quantidade marcada pela paixão pelas almas perdidas, e pela salvação dessas almas perdidas. Outra dicotomia falsa é entre a prática do amor à custa da sã doutrina e a defesa da sã doutrina à custa da não-prática do amor. Ortodoxia e Ortopraxia são inseparáveis.
A Comunidade do Testemunho se evidencia como uma alternativa e uma contracultura em relação ao mundo que jaz no maligno, onde a obra da carne dá lugar ao fruto do Espírito, de justiça e de paz. Mas ela não pode viver voltada para dentro, mas deve projetar, como “sal” e “luz”, no meio do drama da História, afirmando os valores do Reino de Deus contra os anti-valores do principado das trevas, afirmativa, proclamativa, profética. É parte da sua missão, questionar os pecados dos indivíduos, grupos, instituições, nações e Estados, denunciar a idolatria, chamar ao arrependimento.
Somos, também, desafiados hoje à reevangelização da antiga Cristandade. Em 2010 estaremos comemorando o centenário de um grande equívoco: a decisão da Conferência Ecumênica de Edimburgo, na Escócia, de excluir a América Latina como campo missionário. Nós, os 25 milhões de protestantes brasileiros – juntamente com outros milhões em todo o continente – somos herdeiros dos que desobedeceram àquela decisão. Quando 600 mil pessoas têm deixado a Igreja de Roma no Brasil cada ano nas últimas três décadas; quando apenas 11% dos seus membros freqüentam a Igreja; quando 50% dos seus membros ativos freqüentam também o ocultismo; quando 70% deles acreditam na reencarnação e não na ressurreição; quando a única presença liberal expressiva se deu com sua Teologia da Libertação, a ortodoxa e pujante comunidade protestante do Brasil mantêm hoje missionários em mais de 100 países.
A Igreja foi, em seu início, uma Comunidade da Palavra, da Adoração e do Testemunho. Ela é chamada a ser sempre assim em todas as épocas. Esse é o desafio atual da Comunhão Anglicana, como ramo dessa Igreja. Que tenhamos coragem para ser. E que O Senhor nos assista com o seu Poder. Amém!
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Revmo. Robinson Cavalcanti é Bispo Anglicano da Diocese do Recife.
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