Entrevista com o Bispo Dom Robson Cavalcanti 15/06/2008Por Miguel Trindade e Ayona Raíza (Diretório Jovem da Paróquia Anglicana Jesus de Nazaré)
DJ: o que significa GAFCON?
D. Robinson: Congresso sobre futuro global do anglicanismo (em inglês). Nesse ano teremos 1000 participantes de 19 províncias, 280 bispos e um total de dioceses representadas o que significa 35 milhões de fiéis.
DJ: Qual o objetivo da sua viajem a Jerusalém?
D. Robinson: O objetivo é procurar anglicanos no mundo inteiro, para fazer uma avaliação da atual Comunhão Anglicana e quais os planos para o avanço da obra na próxima década. Antes do congresso iremos fazer uma reunião das comissões, eu vou fazer uma lição bíblica no primeiro dia sobre o tema: A igreja a comunidade da palavra, da adoração e do testemunho.
DJ: Qual o retorno que a igreja vai ter com a sua viajem?
D. Robinson: O retorno é que para a Diocese do Recife, ela é cada vez mais é reconhecida enquanto eu viajo e estou em contato com líderes mundiais; e isso tem resultado num maior prestígio da Diocese e também muita vezes em auxílios com crédito, como verba para creche ou verba para a biblioteca do seminário etc. Eu fui a Inglaterra há dois meses e meu computador tinha pifado, ganhei um de presente. Então Recife hoje é uma Diocese que está sempre presente nos eventos internacionais.
...algumas pessoas não vão porque não foram convidadas e em protesto algumas das que foram convidadas também não vão (à Lambeth).
DJ: Sobre o evento que irá acontecer em Lambeth, o Concílio no caso. Quem vai a Lambeth, quem é escalado pra ir?
D. Robinson: Em princípio todos os bispos anglicanos deveriam ir para Lambeth, mas a ida é mediante o convite do Arcebispo de Cantuária, e ele excluiu algumas pessoas inclusive a mim, então com isso algumas pessoas não vão porque não foram convidadas e em protesto algumas das que foram convidadas também não vão. Então essa reunião que já funciona há quase um século e meio a cada dez anos, esse ano está esvaziada, não somente pela ausência de alguns bispos, mas porque o arcebispo de Cantuária decidiu que não vai ter nenhuma votação, vai ser somente troca de idéias e isso não delibera nada.
DJ: Haverá a presença de outros bispos além da sua?
D. Robinson: Lá em Lambeth sim, o pessoal aqui da província de onde nos saímos irá. De outras províncias alguns irão, alguns não irão. Então, é pela primeira vez na história a conferência não é aberta. Pensei que só não iria quem tivesse doente antigamente.
DJ: Qual o assunto central que será discutido nesse evento em Lambeth?
D. Robinson: Como eu não fui convidado e a divulgação foi muito fraca, nos temos noção do que vamos discutir lá no GAFCON, mas em Lambeth disseram que vai ter estudo bíblico, vai ter resoneração etc. Agora, no nosso caso, lá vamos estudar sobre o senhorio de Jesus cristo, sobre a liturgia, sobre a ortodoxia, o que é ser anglicano, quais são os desafios que a igreja está vivendo hoje e a ênfase em missões e evangelismo.
"O apóstolo Paulo diz que o cristão maduro não abandona sua congregação não é?"
DJ: Aproveitando o ensejo da posse do Deão, o que é um Deão? E qual a importância dele para a igreja?
D. Robinson: A Catedral, ela sempre foi a primeira igreja das regiões quando o cristianismo começou. Então quando se chegava numa região, a primeira igreja era chamada Sé, porque Sé era uma abreviatura de Sede, era onde o bispo tinha seu escritório e era de onde saíam os planejamentos para aquelas regiões, Efésios, Coríntios. Então a Sé era a primeira igreja que era a Sede e naquela igreja tinha a cadeira onde o apóstolo ou o bispo que o apóstolo tinha instalado ensinava o evangelho ao povo, porque o bispo naquele tempo não tinha idade pra se aposentar, só quando morria ou ficava “gagá”, e os sermões eram muito longos então as pessoas se sentavam naquela cadeira para ensinar o povo. Ai a palavra cátedra quer dizer cadeira, então sé-sede e cátedra-cadeira. Como o bispo ele era uma pessoa que ficava circulando nas igrejas naquela região o Deão era o pastor titular da catedral que era o braço direito dele naquela comunidade. Então os grandes atos, assim gerais, as reuniões eram sempre feitas naquela igreja sede então o pastor daquela igreja sede era chamado de Deão como se fosse o braço direito do bispo.
"...eu creio que em qualquer situação o povo tem que ser convertido, tem que conhecer a bíblia..."
DJ: O que tinha nas Igrejas Anglicanas de antigamente que falta nas de hoje ou vice-versa?
D. Robinson: Varia muito de região pra região, porque se você for ao hemisfério norte não só nas igrejas anglicanas, mas quase todas as denominações desses países mais ricos, da Europa e Estados Unidos eles perderam, não somente a fé simples na vida, mas o ânimo missionário. Enquanto se você chega aos países mais pobres, mais novos, você tem a igreja muito mais vibrante. Então hoje é mais uma questão de lugar do que mesmo de igreja. Então você chega à África onde as igrejas são cheias e às vezes novas igrejas. Então eu creio que em qualquer situação o povo tem que ser convertido, tem que conhecer a bíblia em segundo lugar, tem que conhecer o que é o anglicanismo e tem que ter paixão missionária, essas quatro coisas é que dá saúde pra igreja. Não tendo fica capenga como se fossem quatro pernas de uma cadeira.
DJ: Os que saem da igreja fazem isso por falta de discernimento da palavra de Deus, maturidade cristã, ou porque estão insatisfeitos com aquilo que Deus lhes deu?
D. Robinson: Há os que saem da igreja, por razão do pecado. Você aderiu à droga, por exemplo, aderiu ao alcoolismo ou entrou numa gangue, então você saiu por causa do pecado. Há outras pessoas que tiveram um expediente superficial e não se alimentaram e a semente não foi regada, então saem porque sua fé não foi alimentada. Outras pessoas se sentem atraídas por coisas espetaculares, querem uma igreja que prometa automóvel novo e tal. Então as razões porque as pessoas deixam à igreja são variadas, mas o apóstolo Paulo diz que o cristão maduro não abandona sua congregação não é?
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